sábado, 5 de outubro de 2013

Resenha de Violentina - Um Jogo Marginal de Contas Histórias

Fala galera!

Esses dias me deu muita vontade de jogar novamente Violentina e então me surgiu a ideia de resenhá-lo para vocês.
Violentina é um jogo muito bom e com uma proposta diferente dos rpgs clássicos mais conhecidos.
Segue a resenha. Espero que gostem!


Antes de falar do conteúdo do livro, falarei um pouco da criação do livro em si.

Violentina foi o primeiro livro de rpg lançado no Brasil via financiamento coletivo, tendo seu financiamento muito bem sucedido em 2011, contanto com 115 financiadores. O jogo foi criado pelo brazuca e mineiro Eduardo Caetano.

Palavras do autor: "... UMA ÚLTIMA PALAVRA
Bom, além de todas estas referências anteriores, existe mais uma, menos específica, que eu gostaria de compartilhar com vocês, sem tomar muito mais do seu tempo, pois acredito que ela diz muito sobre o que eu penso sobre RPGs, sobre o processo de concepção inicial e desenvolvimento de um jogo, sobre o lugar de onde nascem as inspirações, sobre como precisamos enxergar as coisas sob outras perspectivas “thinking outside the box”, para que possamos contribuir significantemente para o nosso querido hobbie.
Comecei a jogar RPG em 1995, com 14 anos, quando morava no interior de Minas Gerais, em Varginha. E sei lá o porque, decidi começar a jogar essa bagaça. Comprei o Tagmar e comecei a mestrar para alguns amigos. É meu jogo de fantasia favorito. Comecei assim, mestrando, achando que estava fazendo tudo errado. Essa primeira experiência se tornou uma campanha de dois anos. E durante estes dois anos conheci muita gente e muitos jogos, fiz muitos amigos e descobri que o que eu gosto mesmo é de mestrar. O grupo cresceu tanto que se tornou um projeto de live action do Brasil by Night. Éramos cerca de 50 pessoas, mais o pessoal que vinha sempre do Rio, de São Paulo e BH pra jogar com a gente. Tive então de me mudar para Belo Horizonte, e inevitavelmente me afastei do meu querido grupo, meus queridos amigos. Por sorte e ocasião do destino, vim a morar em um prédio em que havia um jogador de RPG e uma cambada de criança que conhecia o jogo. E foi aí que surgiu a semente para Violentina, que só viria a germinar mais de dez anos mais tarde.
Certa vez estávamos no pilotis do prédio, a jogar aquele jogo simples de Detetive, em que você escreve Assassino, Detetive e Vitima em papeizinhos a serem sorteados e mantidos em segredo, onde o assassino consegue matar a vitima apenas com uma piscadela, e o detetive deve apenas percebê-lo para capturá-lo, lembra–se? Pois bem, ao invés de bilhetes, utilizamos cartas de baralho: Rei para o Detetive e Ás para o Assassino.
Para sanar a abstinência de jogar Lives e me divertir com o pessoal do prédio, brotou na minha cabeça uma ideia deveras interessante. Reuni a criançada toda, cerca de oito ou nove, e as chamei para uma brincadeira de Polícia e Ladrão um pouco diferente. Para dar uma temperada no jogo e torná-lo menos enfadonho àqueles que eram somente Vitimas, criei mais dois papéis coadjuvantes: O Repórter, e A Prostituta (não me julguem, eu era adolescente na época...), respectivamente o Valete e a Dama, comparsas do Detetive e do Assassino e que possuíam poderes menores. Eles podiam dedurar seus respectivos inimigos para seus comparsas. A pegada do jogo, se você não se lembra, era ver quem descobria quem primeiro. Ou o Detetive capturava o Assassino ganhando o jogo, se o visse piscando, ou o Assassino matava todo mundo e ganhava ele o jogo. Com o acréscimo dos comparsas, a dinâmica do jogo potencializou-se, criando uma rede de intriga, desconfiança e paranoia divertidíssimos! Acrescente a isso o fato de jogarmos de pé, interpretando, como em um Live. Sempre em uma situação diferente: uma festa, um concerto, uma solenidade. Usávamos arminhas de brinquedo, e durante uma cena de quinze, vinte minutos, nos divertíamos a beça. Elas adoravam. Eu também. Mantive esta experiência dentre minhas lembranças preferidas. Até eu redescobrir o RPG uma década depois, e minha mente começar a perturbar-se com como as coisas haviam se desenvolvido na gringa desde então. Sempre fui fã de Tarantino. E sempre me perguntava por que ainda não havia visto nada adaptado para RPG. Ao me inteirar com a cena independente e absorver, entender que era possível aplicar seus conceitos, foi só somar 2 e 2. Eu tinha então minha semente para a concepção do meu jogo Tarantinesco. Obviamente eu tive de jogar, aprender e deliberadamente me inspirar em outros jogos, como Fiasco e A Penny for my Thoughts e tantos outros.

Mas o embrião para este jogo que tem em mãos foi concebido lá, há dez anos atrás, com um bando de crianças.
Keep Thinking Outside the Box..."

Criado pela editora então desconhecida Secular Games, o livro com pouco mais de 130 páginas, impressão em um papel de ótima qualidade, traz uma capa linda e muito bem feita. Capa colorida e miolo preto e branco, o livro traz em se diz ser "um jogo marginal de contar histórias" e ainda promete ser um manual para contar histórias entre amigos, sexy, rápido, sujo e com estilo. Ideal para sessões "one shot", para grupos que precisam de entretenimento expresso.

Muitas promessas não é mesmo? Ainda mais sendo inspirado em filmes "Tarantinescos". Será que ele consegue cumprir o que promete? Pois eu digo que sim! Digo ainda mais: o jogo não só cumpre o prometido, como supera as expectativas em muito. Violentina é um jogo foda! Realmente foda e que deveria ser conhecido por todos os rpgísistas que se interessam pelo gênero.

O livro é dividido em uma introdução, dois capítulos e um apêndice. Sua leitura é muito leve e fácil de entender. Você consegue facilmente ler o livro inteiro em um ou dois dias.

Na Introdução, também batizada como Violência, o autor trata de deixar claro a premissa do jogo, diferenciando sua modalidade do rpg tradicional, classificando-o como um Story Game, cujo objetivo principal é contar uma história coletivamente, tendo o foco principal em desenvolver a história como os amigos, superando a preocupação com os personagens de cada um.
Logo em seguida, o livro nos apresenta a estrutura de uma sessão de Violentina, que contempla cinco etapas ( Prólogo, Desenvolvimento, Complicação, Clímax e Epílogo), parecidas com a construção de um roteiro de filme. Cada uma destas etapas com algumas fases.
Aqui o autor fala também sobre o que é o jogo, informando que o mesmo busca capturar a essência, a dinâmica cinematográfica e a linguagem narrativa de filmes como: Pulp Fiction, Snatch - Porcos e Diamantes, Cães de Aluguel, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Rock n' Rolla. Resumindo também o jogo como um jogo de Violência, Vícios, Volúpia e Vingança.
O livro trata também de apresentar os mecanismos que garantem que esse clima aconteça, como as cartas de baralho e regras de SUBORNOS e AMEAÇAS, que transferem parte ou todo o controle narrativo para outro protagonista, falando também das atitudes que devem ser recompensadas para os jogadores, como aceitar as ideias dos outros jogadores e a criação de bons diálogos.
Algumas particularidades do jogo também são discutidas nesta parte. A primeira delas, é uma breve discussão sobre o fato de que no jogo não há mestre, ou de que nele todo mundo é mestre, em seu turno. Em seguida, outro texto informa que para este jogo não é necessária nenhuma preparação por parte dos jogadores, pois nele todos simplesmente sentam-se ao redor de uma mesa, pegam os materiais necessários para o jogo e colocam a imaginação para funcionar. Explica também em outro texto que o jogo não precisa apresentar linearidade cronológica, imitando alguns dos filmes nos quais o jogo é inspirado.
Ao final da Introdução, o autor fala sobre o enquadramento de uma cena, apresentando seus elementos e um exemplo baseado em uma cena do filme Pulp Fiction. Por fim, o autor lista tudo o que é necessário  jogar Violentina (três a cinco amigos, um gabarito de clichê para cada jogador, um garabito de sinopse, um par de maços de baralhos completo com os fundos diferentes, cinco marcadores por jogador para representar a Grana e três bilhetes de papel em branco).

Chegando ao Capítulo 1 - Vício, este nos apresenta um estudo mais aprofundado dos conceitos do jogo e de seu tema, descrevendo como ele funciona e dissecando seu sistema em cada um de seus aspectos.
Toda a mecânica de regras é detalhada neste capítulo. Aqui é onde aprendemos sobre a construção dos personagens, que é baseada em quatro Rótulos (SOLITÁRIO, AUTORIDADE, FEMME FATALE E CRIMINOSO) e quatro Âmagos (PASSIONAL, HEDIONDO, OBSESSIVO E POSSESSIVO), que são sorteados através do saque de cartas na fase de preparação e servem para construir a base de personalidade dos personagens. Outros dois fatores também são observados nesta fase, os Vínculos (AFETIVO, ANTAGÔNICO, INVEJOSO E PROFISSIONAL) e os Desejos (POSSUIR, ATRAPALHAR, AJUDAR E SUPRIMIR), que são igualmente sorteados pelas cartas, porém, têm o objetivo de prover a interação dos personagens entre si e com o cenário.
Após tratar dos personagens, o livro nos mostra como construir as bases sólidas da narrativa que se seguirá. Primeiramente, sorteamos O CAVEIRA, que é o elemento central da trama. A "coisa" ao redor da qual a trama se desenvolverá, podendo esta coisa ser um objeto, uma pessoa ou até mesmo um lugar. Sorteado o caveira, os personagens têm a oportunidade de inserir SEMENTES DA TRAMA, que são outros objetos, pessoas ou lugares importantes para a narrativa, contudo, menos importante que o caveira.
Exemplo de ficha preenchida!
Ao fim deste passo, os jogadores devem conversar e tomar nota de todos os elementos adquiridos até então e com base neles, escrever uma sinopse, que terminará a construção da base para a história que se seguirá.
As próximas páginas falam sobre o enquadramento de cenas e quatro temas (VIOLÊNCIA, VÍCIO, VOLÚPIA E VINTÉM) que podem ser inseridos na trama pelos jogadores, utilizando as cartas referentes aos mesmos.
Após o enquadramento, apresemos sobre as complicações, os SUBORNOS (no qual um jogador oferece Grana para outro para que o mesmo introduza ou retire algum elemento de determinada cena) e as AMEÇAS (que consiste em uma disputa, na qual se o jogador que estiver ameaçando vencer, o mesmo ganha controle absoluto durante o período que quiser dentro da cena. Após estas complicações, aprendemos como e quando ocorrem a fase do CLÍMAX E DO EPÍLOGO, bem como quem narra o que dentro das mesmas.
Tudo neste capítulo é muito bem explicado e cheio de exemplos, todos eles baseados em cenas dos filmes que serviram de inspiração para o jogo.

O Capítulo 2 - Volúpia trata de um exemplo de jogo completo. Iniciando com um desenho mostrando o esquema, quem como a sequencia na qual as fases ocorrem e em seguida partindo para o exemplo em si. Este capítulo é excelente para sanar dúvidas que provavelmente surgirão, seja no momento da leitura ou até mesmo na hora do jogo. É possível perceber que neste capítulo, que é o maior do livro o autor se preocupou em criar situações que provavelmente gerariam dúvidas durante a sessão de jogo.
Todas as fases e ações são descritas, exemplificadas e devidamente explicadas neste capítulo. Realmente vale a pena dar uma lida bem detalhada neste capítulo.
No final deste capítulo, algumas dicas e variantes para serem aplicadas ao jogo, para comportar mais jogadores ou inserir novas mecânicas, criar novos cenários e por fim algumas valiosas dicas para lidar com situações mais específicas e os modelos de gabaritos em branco para serem utilizados no jogo.

Fechando o livro, o Apêndice - Vintém, traz um ótimo material de apoio para o jogo, como uma lista de sugestões de alcunhas, quadros e gabaritos e uma lista muito extensa com referências e inspirações para aumentar a imersão ao clima do jogo.
Finalizando o livro, temos um ótimo glossário e um índice remissivo bastante útil.

Então galera, é isso! Por tudo que foi apresentado nesta pequena resenha e pela maravilhosa experiência que é jogar Violentina, recomendo fortemente este jogo. Principalmente se você e seus amigos enfrentam problemas como falta de tempo para preparar aventuras e falta de narradores disponíveis.

Espero que tenham gostado. Grande abraço a todos e até a próxima!

Links relacionados:

Link para comprar Violentina: https://www.koboldsden.com.br/violentina

Página de Violentina na Secular Games, com materiais gratuitos para download: http://www.secular-games.com/tag/violentina/

Vídeo feito pelo autor apresentando o jogo e explicando sua premissa básica: http://www.youtube.com/watch?v=3U9H49MX90o

Entrevista muito boa com o autor: http://www.youtube.com/watch?v=zSoy6Hn9S_8

Blog O Rolista Independente, criado pelo autor: http://rolistaindependente.wordpress.com/

Hangout especial falando sobre jogos independentes pelo mundo: https://plus.google.com/u/0/events/ca147d9lqfp87bbptijsc29l3o0







2 comentários:

  1. Mais um belo artigo. Deu até vontade de comprar o jogo.

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    1. Obrigado André!
      Compra sim. É um ótimo jogo!
      Não precisa de preparação e é excelente até mesmo para apresentar o rpg para pessoas que nunca ouviram falar do jogo.
      Grande abraço e continue acompanhando!

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